segunda-feira, 24 de dezembro de 2007

Poema de Natal

Foto: Tony Lindner
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Natal é um tempo de espera, mudanças, frutos a nascer. Tempo de criatividade, boas vibrações e do esquecimento - mesmo que temporário – de todas as desavenças, miudezas e da falta de caráter humana. É tempo de olhar o que foi e preparar o que está por vir. Nesse caminho, o coração é aquele que mais sofre com tantas possibilidades: é muita esperança que pode, sim, se tornar frustração no final. Mas Natal é avesso à frustração. Natal é coragem, tempo de "pagar para ver" (trocadilhos à parte), de começo, simpatia...No Natal é onde somos mais do que entendemos ser. Uma pena só entendermos isso uma única vez no ano. Que a vibração exista e persista durante todo o ano! Que tentemos ser melhores sempre...
Feliz Natal!
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POEMA DE NATAL

Para isso fomos feitos:
Para lembrar e ser lembrados
Para chorar e fazer chorar
Para enterrar os nossos mortos —
Por isso temos braços longos para os adeuses
Mãos para colher o que foi dado
Dedos para cavar a terra.
Assim será nossa vida:
Uma tarde sempre a esquecer
Uma estrela a se apagar na treva
Um caminho entre dois túmulos —
Por isso precisamos velar
Falar baixo, pisar leve, ver
A noite dormir em silêncio.
Não há muito o que dizer:
Uma canção sobre um berço
Um verso, talvez de amor
Uma prece por quem se vai —
Mas que essa hora não esqueça
E por ela os nossos corações
Se deixem, graves e simples.
Pois para isso fomos feitos:
Para a esperança no milagre
Para a participação da poesia
Para ver a face da morte —
De repente nunca mais esperaremos...
Hoje a noite é jovem; da morte, apenas
Nascemos, imensamente.

(Vinicius de Moraes in "Antologia Poética", Editora do Autor - Rio de Janeiro, 1960, pág. 147).
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