segunda-feira, 29 de outubro de 2007

We'll Always Have Paris







"O valor das coisas não está no tempo que elas duram, mas na intensidade com que acontecem. Por isso, existem momentos inesquecíveis, coisas inexplicáveis e pessoas incomparáveis."

Fernando Pessoa

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domingo, 28 de outubro de 2007

Outros mundos

As palavras são como as pessoas: nada democráticas. Existem momentos de profunda clareza, mas é uma clareza ilusória. Na verdade, quase todas as sentenças cruciais da vida, parecem estar definidas por uma palavra chamada inacessibilidade. O erro, as dissonâncias, as contradições, as metades, estão todas conferidas à uma única pessoa. O mundo é certo. Todos estão sempre certos. Só eu estou errada nisso tudo.

A grandeza é plural e a vaidade também.

O estar, nesse caso, é um estar envolvido às situações anteriores - a falta que a falta faz -, e isso vai minando as expectativas, as possibilidades de alguma coisa vir a ser.

Vez ou outra, outros mundos se apresentam, e as pessoas assumem outras importâncias...

Quem nunca teve a impressão, que mesmo certo das suas ações, em um momento totalmente delicado, tentou se explicar, mas se atrapalhou mais e mais? Quem te viu e quem te vê. É assim, baby. É assim.
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segunda-feira, 22 de outubro de 2007

Home


U2 - Walk On

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Amor a gente busca nas pequenas coisas, no detalhe de um olhar, num gesto, na solidariedade, na compaixão... Muitas vezes não está apenas na sexualidade. Vai além. Respeito tem a ver com amor. Muito a ver. É a capacidade do ser humano de se colocar no lugar do outro e entender toda a falta de tato, todo o descompasso e a falta de sintonia. É preciso ter um tempo sozinho para perdoar de verdade. Certas coisas não são fáceis de lidar. É o que acontece com tudo que envolve a palavra emoção.

Um ditado italiano diz que “sua casa é onde está o seu coração”. Amor é isso. É onde está. Tudo que você procura, tem que estar lá. Como uma caixa de surpresas, tem que estar lá. Você não sabe onde vai, nem o que tem, mas o que você necessita - mesmo que por enquanto - vai encontrar. É onde você se reconhece.

“Home, hard to know what it is if you never had one. Home I can't say where it is but I know I'm going home. That's where the hurt is”.

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domingo, 21 de outubro de 2007

Never Dreamed You'd leave in Summer


Stevie Wonder

Uma canção triste, para um momento triste.

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Nuvem Negra


Djavan - Gal Costa - Chico Buarque

sexta-feira, 19 de outubro de 2007

Tempo, tempo, tempo...



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Ouve bem o que te digo:
Tempo, tempo, tempo, tempo...

Peço-te o prazer legítimo
E o movimento preciso
Quando o tempo for propício,
De modo que o meu espírito
Ganhe um brilho definido
E eu espalhe benefícios,
Tempo, tempo, tempo, tempo.

O que usaremos pra isso
Fica guardado em sigilo,
Apenas contigo e comigo
Tempo, tempo, tempo, tempo.

E quando eu tiver saído
Para fora do teu círculo,
Tempo, tempo, tempo, tempo,
Não serei nem terás sido
Tempo, tempo, tempo, tempo.

Ainda assim acredito
Ser possível reunirmo-nos
Num outro nível de vínculo.

Portanto peço-te aquilo
E te ofereço elogios,
Tempo, tempo, tempo, tempo.
Nas rimas do meu estilo.

(Oração ao tempo, Caetano Veloso)

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quarta-feira, 17 de outubro de 2007

Amigos & Solidão

Clarice Lispector entrevista Nelson Rodrigues.

É surpreendente como Nelson consegue captar - em palavras - o que a gente só percebe na intuição e cala. Segue um trecho da conversa:

- Nelson, você se referiu à solidão. Você se sente um homem só?
- Só ponto de vista amoroso eu encontrei a Lúcia. E é preciso especificar: a grande, a perfeita solidão exige uma companhia ideal.

- Ah, Nelson, isto é tão verdadeiro.
- Mas, diante do resto do mundo eu sou um homem maravilhosamente só. Uma vez fiquei gravemente doente, doente de morrer. Recebi em três meses de agonia, três visitas, uma por mês. Note-se que a minha doença foi promovida em primeiras páginas. Aí, eu sofri na carne e na alma esta verdade intolerável: o amigo não existe.

- Nelson, como consequência do meu incêndio, passei quase três meses no hospital. E recebia visitas até de estranhos. Eu não sou simpática. Mas o que é que eu dei aos outros para que viessem fazer companhia? Não acredito que não se tenha amigos. É que são raros. Ou eu dou muito pouco ou os outros não aceitam o que eu tenho para dar.
- Mas você tem sucesso real - e sucesso real vem quando se dá alguma coisa aos outros. Você dá. Certa vez fui a uma capelinha ver um colega morto. Eram duas da manhã. Uma mocinha saiu do velório ao lado com um caderninho na mão. Fez uma mesura para mim e disse: "quero ter a honra de apertar a mão do autor de A vida como ela é". E me pediu um autógrafo. Eu senti que estava vivendo um momento da pobre ternura humana. Eis o que eu queria dizer: o amigo possível e certo é o desconhecido com que cruzamos por um instante e nunca mais. A esse podemos amar e por esses podemos ser amados.. O trágico na amizade é o dilacerado abismo da convivência.

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Vinicius de Moraes, poema.

Rita Hayworth

As mulheres ocas

Headpiece filled with siraw T.S. Eliot, "The Hollow Men"

Nós somos as inorgânicas
Frias estátuas de talco
Com hálito de champagne
E pernas de salto alto
Nossa pele fluorescente
É doce e refrigerada
E em nossa conversa ausente
Tudo não quer dizer nada.

Nós somos as longilíneas
Lentas madonas de boate
Iluminamos as pistas
Com nossos rostos de opala.
Vamos em câmara lenta
Sem sorrir demasiado
E olhamos como sem ver
Com nossos olhos cromados.

Nós somos as sonolentas
Monjas do tédio inconsútil
Em nosso escuro convento
A ordem manda ser fútil
Fomos alunas bilíngües
De "Sacre-Coeur" e "Sion"
Mas adorar, só adoramos
A imagem do deus Mamon.

Nós somos as grã-funestas
Filhas do Ouro com a Miséria
O gênio nos enfastia
E a estupidez nos diverte.
Amamos a vida fria
E tudo o que nos espelha
Na asséptica companhia
Dos nossos machos-de-abelha.

Nós somos as bailarinas
Pressagas do cataclismo
Dançando a dança da moda
Na corda bamba do abismo.
Mas nada nos incomoda
De vez que há sempre quem paga
O luxo de entrar na roda
Em Arpels ou Balenciaga.

Nós somos as grã-funestas
As onézimas letais*
Dormimos a nossa sesta
Em ataúdes de cristal
E só tiramos do rosto
Nossa máscara de cal
Para o drinque do sol posto
Com o cronista social.


* Uma das categorias da Nova Gnomônia, de Jayme Ovalle, que classifica os seres e as coisas em: datas, parás, mozarlescos, kernianos e os onézimos, sendo estes conhecidos "pés-frios". Para maiores esclarecimentos, ver o capítulo [a crônica] "A Nova Gnomônia" em Crônicas da província do Brasil, de Manuel Bandeira.

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domingo, 14 de outubro de 2007

"Everybody needs somebody"


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"Amor não é amor,
Se quando encontra obstáculos se altera,
Ou se vacila ao mínimo temor."

Shakespeare

quarta-feira, 10 de outubro de 2007

"E sonho esse sonho que se estende em rua, em rua em rua em vão."
Lucia Villares in Papos de Anjo

Como se eu estivesse por fora do movimento da vida. A vida rolando por aí feito roda-gigante, com todo mundo dentro, e eu aqui parada, pateta, sentada no bar. Sem fazer nada, como se tivesse desaprendido a linguagem dos outros.

A linguagem que eles usam para se comunicar quando rodam assim e assim por diante nessa roda-gigante. Você tem um passe para a roda-gigante, uma senha, um código, sei lá. Você fala qualquer coisa tipo "bá", por exemplo, então o cara deixa você entrar, sentar e rodar junto com os outros. Mas eu fico sempre do lado de fora. Aqui parada, sem saber a palavra certa, sem conseguir adivinhar. Olhando de fora, a cara cheia, louca de vontade de estar lá, rodando junto com eles nessa roda idiota - tá me entendendo, garotão?

Nada, você não entende nada.

Dama da noite. Todos me chamam e nem sabem que durmo o dia inteiro. Não suporto: luz, também nunca tenho nada pra fazer - o quê? Umas rendas aí. É, macetes. Não dou detalhe, adianta insistir. Mutreta, trambique, muamba. Já falei: não adianta insistir, boy . Aprendi que, se eu der detalhe, você vai sacar que tenho grana e se eu tenho grana você vai querer foder comigo só porque eu tenho grana.

E acontece que eu ainda sou babaca, pateta e ridícula o suficiente para estar procurando O verdadeiro amor.

Pára de rir, senão te jogo já este copo na cara.

Pago o copo, a bebida. Pago o estrago e até o bar, se ficar a fim de quebrar tudo. Se eu tô tesuda e você anda duro e eu precisar de cacete, compro o teu, pago o teu. Quanto custa? Me diz que eu pago. Pago bebida, comida, dormida. E pago foda também, se for preciso.

Pego, claro que eu pego. Pego sim, pego depois. É grande? Gosto de grande, bem grosso. Agora não.

A roda?
Não sei se é você que escolhe, não. Olha bem pra mim - tenho cara de quem escolheu alguma coisa na vida? Quando dei por mim, todo mundo já tinha decorado a tal palavrinha-chave e tava a mil, seu lugarzinho seguro, rodando na roda. Menos eu, menos eu.

Quem roda na roda fica contente. Quem não roda se fode. Que nem eu, você acha que eu pareço muito fodida? Um pouco eu sei que sim, mas fala a verdade: muito? Falso, eu tenho uns amigos, sim. Fodidos que nem eu. Prefiro não andar com eles, me fazem mal. Gente da minha idade, mesmo tipo de... Ia dizer problema, puro hábito: não tem problema. Você sabe, um saco. Que nem espelho: eu olho pra cara fodida deles e tá lá escrita escarrada a minha própria cara fodida também, igualzinha à cara deles. Alguns rodam na roda, mas rodam fodidamente. Não rodam que nem você. Você é tão inocente, tão idiotinha com essa camisinha Mr. Wonderful. Inocente porque nem sabe que é inocente. Nem eles, meus amigos fodidos, sabem que não são mais.

Tem umas coisas que a gente vai deixando, vai deixando, vai deixando de ser e nem percebe. Quando viu, babau, já não é mais.

Mocidade é isso aí, sabia?

*
(Caio Fernando Abreu in Dama da Noite, fragmentos)

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A Drinking Song
by W.B. Yeats

Wine comes in at the mouth
And love comes in at the eye;
That's all we shall know for truth
Before we grow old and die.
I lift the glass to my mouth,
I look at you, and I sigh.

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terça-feira, 9 de outubro de 2007

Alphaville


Jean-Luc Godard

My funny Valentine


From the movie "The Talented Mr. Ripley" performed by Matt Damon and The Guy Barker International Quintet.
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quinta-feira, 4 de outubro de 2007

"Criar é não se adequar à vida como ela é, nem tampouco se grudar às lembranças pretéritas que não sobrenadam mais."
(Waly Salomão, 1998, p.45)


Na abertura do livro Lábia proclama-se que a "memória é uma ilha-de-edição". Isso quer dizer que a memória não se reduz a um registro passivo de traços ou dados do passado. Ao contrário, o que temos por "dado" é já desde sempre o resultado da atividade interpretativo-construtiva - de seleção, corte, cópia, colagem, etc. - efetuado por um processo de edição ou montagem.

O passado que se pretende objetivamente dado é apenas o resultado de um processo de edição "esquecido" ( ou, ele mesmo, "editado"). É esse esquecimento que faz com que aquilo que não passa de um dos infinitos passados possíveis acabe aparecendo como o único verdadeiro.
(Fragmentos de Me segura qu'eu vou dar um troço, comentários de Antonio Cicero).

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"Orestes: sou estranho para mim mesmo, sei. Fora da natureza, contra a natureza, sem desculpa, sem outro recurso senão eu. Mas não voltarei a estar sob o julgo da lei: estou condenado a não ter outra lei senão a minha".
- Jean Paul Sartre in As moscas.

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"Los dioses son dioses, porque no se piensan".




terça-feira, 2 de outubro de 2007

"Hoje dormimos assim...

Foto: Henri Carter-Bresson

...E que o mundo acabe como quiser: voltamos já".


O que há em mim é sobretudo cansaço

O que há em mim é sobretudo cansaço
Não disto nem daquilo,
Nem sequer de tudo ou de nada:
Cansaço assim mesmo, ele mesmo,
Cansaço.

A sutileza das sensações inúteis,
As paixões violentas por coisa nenhuma,
Os amores intensos por o suposto alguém.
Essas coisas todas.

Essas e o que faz falta nelas eternamente;
Tudo isso faz um cansaço,
Este cansaço, cansaço.

Há sem dúvida quem ame o infinito,
Há sem dúvida quem deseje o impossível,
Há sem dúvida quem não queira nada -

Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:
Porque eu amo infinitamente o finito,
Porque eu desejo impossivelmente o possível,
Porque eu quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,
Ou até se não puder ser...

E o resultado?
Para eles a vida vivida ou sonhada,
Para eles o sonho sonhado ou vivido,
Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto...
Para mim só um grande, um profundo,
E, ah com que felicidade infecundo, cansaço,
Um supremíssimo cansaço.
Íssimo, íssimo. íssimo, cansaço...

(Álvaro de Campos)

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